"Tu és a minha rocha e a
minha fortaleza; guia-me e orienta-me como prometeste" (Salmo
31:3).
A tradução de João
Ferreira de Almeida é a preferida por mais de 60% dos leitores evangélicos da
Bíblia no Brasil. A grande maioria dos evangélicos do Brasil associa o nome de João
Ferreira de Almeida às Escrituras Sagradas. Afinal, é dele a tradução da Bíblia
mais usada e apreciada pelos protestantes brasileiros. Disponível, no Brasil,
em duas edições, a Revista e Corrigida e a Revista e Atualizada, a tradução de
Almeida é a preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no
País.
Se a tradução de Almeida é amplamente conhecida, o mesmo não se pode
dizer a respeito do próprio Almeida. Pouco, ou quase nada, se tem falado e
escrito a respeito dele. Almeida nasceu por volta de 1628, em Torre de Tavares,
Portugal, e morreu em 1691, na cidade de Batávia (hoje Jacarta, na ilha de
Java, Indonésia).
O que se conhece da vida de Almeida está registrado na “Dedicatória” de
um de seus livros e nas atas dos presbitérios de Igrejas Reformadas
(calvinistas) do Sudeste da Ásia, para as quais trabalhou como pastor,
missionário e tradutor, durante a segunda metade do século XVII.
Primeiros Ensaios de
Tradução: Almeida
ficou em Málaca até 1651, quando se transferiu para Batávia, uma pequena
povoação na ilha de Java. Depois de passar por um exame preparatório e de ter
sido aceito como candidato ao pastorado, acumulou novas tarefas: dava aulas de
português a pastores, traduzia livros e ensinava catecismo a professores de
escolas primárias. Em 1656, ordenado pastor, Almeida foi indicado para o
Presbitério do Ceilão. Ao que tudo indica, esse foi o período mais agitado
da vida do tradutor.
Durante o pastorado em Galle (Sul do Ceilão), Almeida assumiu uma
posição tão forte contra o que ele chamava de “superstições papistas”, que o
governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo de
Batávia (provavelmente por volta de 1657).
A
passagem de Almeida por Tuticorin (Sul da Índia), onde foi pastor por cerca de
um ano, também parece não ter sido das mais tranquilas. Tribos da região
negaram-se a ser batizadas ou ter seus casamentos abençoados por ele. Tudo
indica que isso aconteceu porque a Inquisição havia ordenado que um retrato de
Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa.
Família: Foi também durante
sua permanência no Ceilão que, ao que tudo indica, Almeida conheceu a mulher
com a qual viria a se casar. Vinda do catolicismo romano para o protestantismo,
como ele, chamava-se Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lucrécia de Lemos). Mais
tarde, a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina.
Pastor e Tradutor em
Batávia: A partir de 1663 (dos 35 anos de idade em diante, portanto), Almeida
trabalhou na congregação de fala portuguesa da cidade de Batávia, onde ficou
até o final da vida, em 1691. Nesta nova fase, teve uma intensa atividade como
pastor. Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia, iniciado na
juventude. Em 1676, Almeida comunicou ao presbitério que o Novo Testamento
estava pronto. Aí começou a batalha do tradutor para ver o texto publicado –
ele sabia que o presbitério não recomendaria a impressão do trabalho sem que
fosse aprovado por revisores indicados pelo próprio presbitério. E, também que,
sem essa recomendação, não conseguiria outras permissões indispensáveis para
que o fato se concretizasse: a do Governo de Batávia e a da Companhia das Índias
Orientais, na Holanda.
A Publicação do Novo
Testamento em Português: Escolhidos os revisores, o trabalho começou e foi sendo desenvolvido
vagarosamente. Quatro anos depois, irritado com a demora, Almeida resolveu não
esperar mais: mandou o manuscrito para a Holanda por conta própria, para ser
impresso.
Mas o presbitério conseguiu fazer com que a impressão fosse
interrompida. Passados alguns meses, depois de algumas discussões, quando o
tradutor parecia estar quase desistindo de apressar a publicação de seu texto,
cartas vindas da Holanda trouxeram a notícia de que o manuscrito havia sido
revisado e estava sendo impresso naquele país.
Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu
da gráfica. A impressão foi feita em Amsterdã, na Holanda, na tipografia da
viúva J. V. Zomeren. O título era este: “o Novo Testamento isto é o Novo concerto
de Nosso Fiel Senhor e redentor Jesus Cristo Traduzido na Ligua Portuguesa”. Um
ano depois, essa edição do Novo Testamento chegou a Batávia, mas apresentava
erros de tradução e revisão.
Entre
1658 e 1661, época em que foi pastor em Colombo, ele voltou a enfrentar
problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, o fato foi comunicado às
autoridades da Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído de lá
foram destruídos, por ordem da Companhia das Índias Orientais. As autoridades
Holandesas determinaram que se fizesse o mesmo com os volumes que já estavam em
Batávia. Pediram também que se começasse, o mais rápido possível, uma nova e cuidadosa
revisão do texto.
Apesar
das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia
foram destruídos. Alguns deles foram corrigidos à mão e enviados às
congregações da região (alguns exemplares dessa edição corrigida foram preservados).
Isto se deu em 1683. Logo em seguida começou o trabalho de revisão e correção
do Novo Testamento, que durou dez longos anos. Somente após a morte de Almeida,
em 1693, é que essa segunda edição foi impressa, na própria Batávia, onde
também foi distribuída. A terceira edição viria a ser publicada em 1712.
A Tradução do Antigo
Testamento: Enquanto progredia a revisão do Novo Testamento, Almeida
começou a traduzir o Antigo Testamento. Em 1683, ele completou a tradução do
Pentateuco. Iniciou-se, então, a revisão desse texto, e a situação que havia
acontecido na época da revisão do Novo Testamento, com muita demora e
discussão, acabou se repetindo. Já com a saúde prejudicada – pelo menos desde
1670, segundo os registros –, Almeida teve sua carga de trabalho na congregação
diminuída e pôde dedicar mais tempo à tradução. Mesmo assim, não conseguiu
acabar a obra à qual havia dedicado a vida inteira. Em 1691, no mês de outubro,
Almeida veio a falecer. Nessa ocasião, ele havia chegado até Ezequiel 48.21.
A Conclusão da Obra: A tradução do Antigo
Testamento foi completada em 1694 por Jacobus op den Akker, pastor holandês,
colega de Almeida. O texto do Antigo Testamento completo só viria a ser
impresso em 1751. A Bíblia completa em um único volume só foi publicada em
1819. A edição de 1898, feita na Europa, viria a ser conhecida como “Revista e
Corrigida”. Em meados do século XX, no Brasil, o texto de Almeida foi revisto e
atualizado e essa edição é conhecida como “Revista e Atualizada”.
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