14 de dez. de 2019

João Ferreira de Almeida


"Tu és a minha rocha e a minha fortaleza; guia-me e orienta-me como prometeste" (Salmo 31:3).

A tradução de João Ferreira de Almeida é a preferida por mais de 60% dos leitores evangélicos da Bíblia no Brasil. A grande maioria dos evangélicos do Brasil associa o nome de João Ferreira de Almeida às Escrituras Sagradas. Afinal, é dele a tradução da Bíblia mais usada e apreciada pelos protestantes brasileiros. Disponível, no Brasil, em duas edições, a Revista e Corrigida e a Revista e Atualizada, a tradução de Almeida é a preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País.

Se a tradução de Almeida é amplamente conhecida, o mesmo não se pode dizer a respeito do próprio Almeida. Pouco, ou quase nada, se tem falado e escrito a respeito dele. Almeida nasceu por volta de 1628, em Torre de Tavares, Portugal, e morreu em 1691, na cidade de Batávia (hoje Jacarta, na ilha de Java, Indonésia).

O que se conhece da vida de Almeida está registrado na “Dedicatória” de um de seus livros e nas atas dos presbitérios de Igrejas Reformadas (calvinistas) do Sudeste da Ásia, para as quais trabalhou como pastor, missionário e tradutor, durante a segunda metade do século XVII.

Primeiros Ensaios de Tradução: Almeida ficou em Málaca até 1651, quando se transferiu para Batávia, uma pequena povoação na ilha de Java. Depois de passar por um exame preparatório e de ter sido aceito como candidato ao pastorado, acumulou novas tarefas: dava aulas de português a pastores, traduzia livros e ensinava catecismo a professores de escolas primárias. Em 1656, ordenado pastor, Almeida foi indicado para o Presbitério do Ceilão. Ao que tudo indica, esse foi o período mais agitado da vida do tradutor.

Durante o pastorado em Galle (Sul do Ceilão), Almeida assumiu uma posição tão forte contra o que ele chamava de “superstições papistas”, que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo de Batávia (provavelmente por volta de 1657).

A passagem de Almeida por Tuticorin (Sul da Índia), onde foi pastor por cerca de um ano, também parece não ter sido das mais tranquilas. Tribos da região negaram-se a ser batizadas ou ter seus casamentos abençoados por ele. Tudo indica que isso aconteceu porque a Inquisição havia ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa.

Família: Foi também durante sua permanência no Ceilão que, ao que tudo indica, Almeida conheceu a mulher com a qual viria a se casar. Vinda do catolicismo romano para o protestantismo, como ele, chamava-se Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lucrécia de Lemos). Mais tarde, a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina.

Pastor e Tradutor em Batávia: A partir de 1663 (dos 35 anos de idade em diante, portanto), Almeida trabalhou na congregação de fala portuguesa da cidade de Batávia, onde ficou até o final da vida, em 1691. Nesta nova fase, teve uma intensa atividade como pastor. Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia, iniciado na juventude. Em 1676, Almeida comunicou ao presbitério que o Novo Testamento estava pronto. Aí começou a batalha do tradutor para ver o texto publicado – ele sabia que o presbitério não recomendaria a impressão do trabalho sem que fosse aprovado por revisores indicados pelo próprio presbitério. E, também que, sem essa recomendação, não conseguiria outras permissões indispensáveis para que o fato se concretizasse: a do Governo de Batávia e a da Companhia das Índias Orientais, na Holanda.

A Publicação do Novo Testamento em Português: Escolhidos os revisores, o trabalho começou e foi sendo desenvolvido vagarosamente. Quatro anos depois, irritado com a demora, Almeida resolveu não esperar mais: mandou o manuscrito para a Holanda por conta própria, para ser impresso.

Mas o presbitério conseguiu fazer com que a impressão fosse interrompida. Passados alguns meses, depois de algumas discussões, quando o tradutor parecia estar quase desistindo de apressar a publicação de seu texto, cartas vindas da Holanda trouxeram a notícia de que o manuscrito havia sido revisado e estava sendo impresso naquele país.

Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfica. A impressão foi feita em Amsterdã, na Holanda, na tipografia da viúva J. V. Zomeren. O título era este: “o Novo Testamento isto é o Novo concerto de Nosso Fiel Senhor e redentor Jesus Cristo Traduzido na Ligua Portuguesa”. Um ano depois, essa edição do Novo Testamento chegou a Batávia, mas apresentava erros de tradução e revisão.

Entre 1658 e 1661, época em que foi pastor em Colombo, ele voltou a enfrentar problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, o fato foi comunicado às autoridades da Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído de lá foram destruídos, por ordem da Companhia das Índias Orientais. As autoridades Holandesas determinaram que se fizesse o mesmo com os volumes que já estavam em Batávia. Pediram também que se começasse, o mais rápido possível, uma nova e cuidadosa revisão do texto.

Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia foram destruídos. Alguns deles foram corrigidos à mão e enviados às congregações da região (alguns exemplares dessa edição corrigida foram preservados). Isto se deu em 1683. Logo em seguida começou o trabalho de revisão e correção do Novo Testamento, que durou dez longos anos. Somente após a morte de Almeida, em 1693, é que essa segunda edição foi impressa, na própria Batávia, onde também foi distribuída. A terceira edição viria a ser publicada em 1712.

A Tradução do Antigo Testamento: Enquanto progredia a revisão do Novo Testamento, Almeida começou a traduzir o Antigo Testamento. Em 1683, ele completou a tradução do Pentateuco. Iniciou-se, então, a revisão desse texto, e a situação que havia acontecido na época da revisão do Novo Testamento, com muita demora e discussão, acabou se repetindo. Já com a saúde prejudicada – pelo menos desde 1670, segundo os registros –, Almeida teve sua carga de trabalho na congregação diminuída e pôde dedicar mais tempo à tradução. Mesmo assim, não conseguiu acabar a obra à qual havia dedicado a vida inteira. Em 1691, no mês de outubro, Almeida veio a falecer. Nessa ocasião, ele havia chegado até Ezequiel 48.21.

A Conclusão da Obra: A tradução do Antigo Testamento foi completada em 1694 por Jacobus op den Akker, pastor holandês, colega de Almeida. O texto do Antigo Testamento completo só viria a ser impresso em 1751. A Bíblia completa em um único volume só foi publicada em 1819. A edição de 1898, feita na Europa, viria a ser conhecida como “Revista e Corrigida”. Em meados do século XX, no Brasil, o texto de Almeida foi revisto e atualizado e essa edição é conhecida como “Revista e Atualizada”.

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